segunda-feira, 26 de abril de 2010

Sr. Brasil


Nesta terça, 27 de abril, às 22h, o aclamado programa Sr. Brasil da Tv Cultura, apresentado por Rolando Bondrin, receberá Roberto Mahn e o Regional Imperial  formado por João Camarero (7 cordas), Junior Pita (violão), Lucas Arantes (cavaco), Marcio Modesto (flauta) e Rafael Toledo (pandeiro). 



Roberto Mahn, o Seresteiro, nasceu em Piracicaba e desde pequeno, influenciado pelo avô que colecionava discos e livros, tomou gosto pela música popular brasileira e quando mais velho, passou a  freqüentar rodas de choro, samba e seresta na cidade natal até que foi lançado como cantor na noite da seresta, tradicional festa realizada no largo dos pescadores na rua do Porto. 


Seresteiro tem um estilo próprio e personalidade que reconstrói toda uma estética musical dos tempos de ouro da nossa música. É acompanhado pelo excelentíssimo regional Imperial que nos dá a maravilhosa impressão de estar ouvindo os discos do Conjunto Época de Ouro, devido à precisão de timbres e formas musicais características do grupo. Um verdadeiro espetáculo!

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Dia Nacional do Choro




Neste dia de hoje, 23 de Abril, há 113 anos nascia Alfredo da Rocha Vianna Filho, o Pixinguinha. É por esta razão que na data de seu nascimento (23 de abril de 1897) é comemorado o dia Nacional do Choro, data que foi sancionada por lei originada por iniciativa de Hamilton de Holanda e seus alunos da Escola de Choro Raphael Rabello. Homenagem mais do que merecida! Pixinguinha aprendeu música em casa, filho de flautista funcionário público que obtinha grande coleção de partituras de choro. Além de filho era irmão de músicos, entre eles Otávio Vianna, o China, que integrou o Conjunto Oito Batutas (1919), regional que incorporou o pandeiro e outros instrumentos de percussão ao choro, que até então, era formado essencialmente por violões, flauta e cavaquinho, quando não um oficlide (foto direita), antecessor do sax. Pixinguinha é considerado um dos maiores compositores da história da música brasileira. Logo aos 15 anos começou a atuar como músico nos cabarés da Lapa, até substituir o flautista titular na orquestra da sala de projeção do Cine Rio Branco. Sua presença era constante em casas noturnas, teatro de revista e nos ranchos carnavalescos, manifestação esta que foi importante na consolidação futura do samba como gênero musical pois era nestes festejos que muitas adaptações eram empregadas nos ritmos que conduziam o carnaval e a dança dos foliões, quando o Entrudo desgasta-se como brincadeira na época de carnaval devido à desorganização e falta de padrão nas brincadeiras que sempre extrapolavam em badernas reprimidas pela polícia da época. Por sua genialidade musical e por considerar que Pixinguinha nasce numa época de intensas mudanças sociais no Rio de Janeiro pela abolição da escravidão, que transformou a sociedade trazendo novas condições econômicas e novas camadas populares mais baixas, os negros abolidos. É por esses aspectos que podemos traçar paralelos que consagram Pixinguinha como o grande contribuidor para que o choro encontrasse uma forma definitiva, pois a sociedade e brasileira adentrava o século XX, imersa nos fundamentos republicanos, industrializando-se, com fortes influências de pensadores modernistas, transformados pelas manias e costumes franceses. Claro que é uma suposição, mas pode muito bem ter relação com as transformações que se instauram no Brasil República, na busca da identidade nacional, dos grandes debates étnicos que envolviam o grosso da população brasileira que se mistura em crenças, cores, culturas, dialetos, mitos por 3 séculos adentro. 



Por este motivo, é necessário esclarecer algumas questões que surgem quando se fala em Choro e Pixinguinha, especialmente. De fato Pixinguinha define ou se aproxima muito disso, mas para tal ocorrência é preciso haver um passado que se dissolve em novas interpretações e perspectivas que o próprio tempo modela e que a realidade social permite abrir caminho dentro das possibilidades que são arbitrárias quando na relação de eventos e coincidências que vão colocando pessoas nas vidas umas das outras. É justamente esse passado que foge do pensamento contemporâneo quando ele está imerso em artificialidades e absorto em propagandas consumistas que nos distanciam de nossa originalidade. Mas eu não gosto de TV. Não troco o bom e velho livro pela varredura das telas plasmáticas, exceto em ocasiões onde a tecnologia conspira com o pensamento crítico e evolutivo. Numa das minhas recentes investidas em punhados de livros, uma amiga me trouxe à experiência o José Ramos Tinhorão e finalmente pude ler seus livros e não artigos como antes. E não é que funciona! Tinhorão é fogo e ele foi às fundas nos trazer informações mastigadinhas. Em suas obras pude ter a real dimensão da profundidade e da extensão da música popular brasileira. Acredite, se você ouvir dizer qualquer coisa sobre o termo MPB, questione ou duvide. Não é tão simples assim exprimir ou resumir nosso passado. Como se vê estou enrolando com receio de escrever asneiras. Mas vamos lá! Considerando que o homem através do recurso da palavra, com significados e símbolos e adjetivos e substantivos e buscando um discurso eloqüente é possível denotar e conotar novas idéias. E é entendendo isso que por meio de estudos e registros o homem conseguiu expressar valores de épocas passadas e foi através da arte que essas expressões ganharam vida no imaginário popular. Tinhorão foi buscar a música, mas deve ter descoberto que aspectos sociais e econômicos não podiam ficar de fora do assunto, pois é nessa rede de relações e interações que as ações humanas conseguem se demarcar no tempo. E volto a dizer: a arte construiu o mundo no qual vivemos. 



Foi através desse pensamento que busquei construir minhas objetivações e procurei entender os processos que traçaram a história do nosso país, sempre atento em buscar fontes seguras de pensamentos, como Tinhorão, Gilberto Freyre e Sílvio Romero. Quando li "Musica Popular: da Modinha à Canção de Protesto" de Tinhorão, pude perceber que no Brasil, há muito tempo vem se buscando uma linha poética e que através dos séculos os mais consagradas literatos sempre tiveram extrema intimidade com a música, que pode ser considerada popular desde os tempos da Modinha do mulato Domingos Caldas Barbosa (foto ao lado) e sua viola. Pode se afirmar que a Modinha é o primeiro gênero de canto brasileiro dirigido ao gosto da gente das camadas médias das cidades. O irônico é ver que essas primeiras canções eram vistas como profanas e cobertas de indecências. E também é evidente a influência portuguesa, pois foi de lá que muitos instrumentos e gêneros musicais vinham, quando daqui voltavam riquezas minerais e especiarias para a corte. Outro fato importante foi a vinda da Família Real ao Brasil em 1808, que trouxe ao país uma nova elite, novos aspectos sociais e culturais, pois dessa forma novas infraestruturas foram empregadas à colônia que a partir de então passava a abrigar a Corte Portuguesa e Dom João VI e a rainha louca. Só no Brasil pra acontecer essas coisas! Desse modo, novas políticas foram aplicadas, novas resoluções comerciais envolvendo Inglaterra e a abertura dos portos no contexto da guerra peninsular, dias após a chegada ao Brasil. Esse evento acabaria com o pacto colonial onde o Brasil tinha exclusividade na relação com Portugal, fato esse que colaborou para a independência do Brasil e diga-se de passagem, um fato muito estranho, pois a independência se deu nas margens do Ipiranga, só que em São Paulo. E o que São Paulo tem a ver com a independência se a Corte ficava no Rio? São Paulo sempre foi o centro financeiro do país e foi nessas terras que os conceitos republicanos ganharam expressão, pois os filhos de aristocratas cursavam faculdade na Europa. Foi talvez a primeira Independência sem revolta popular. O povo tava pra lá de Bagdá. E se os paulistas eram bons de fazer dinheiro com cana e café, os cariocas eram bons de fazer arte e cultura, pois foi com a vinda da Corte que chegaram pianos, novos gêneros e ritmos, inclusive a Modinha de Caldas Barbosa, que tempos antes havia conquistado a Europa e voltado ao Brasil já alterada. Aqui o que havia para divertimento eram as festas ou forrobodós nas casas dos populares que não tinham acesso aos bailes da Corte Real. E quem animava as festas nas casas eram os mestiços das camadas inferiores, que tinham renda suficiente para comprar violas, violões e cavaquinhos. No Brasil Império quem ditava a "moda" eram os poetas românticos e os seresteiros e o som que saía da cidade era a música dos barbeiros, isso mesmo os barbeiros. A partir dos batuques e percussões dos negros, surgiram canções através do desdobramento melódico dos estribilhos por tocadores de viola branco e mestiços, a música dos barbeiros, pois aprendiam a solfa nos colégios dos jesuítas desde o século XVI. Se a música inicialmente era usada para catequizar, pois utilizava da habilidade dos índios e negros tocadores, essa cultura européia entrou em choque com a confusão social dos séculos XVI e XVII e se estendeu até a metade do século XVIII, quando novas ordens sociais organizavam e distribuíam os povos que saíam das zonas rurais e passariam a habitar as cidades, formando o povo da cidade. Nessa, a música já estava sendo adaptada aos costumes e misturas do povo e futuramente a categorização de cargos que se tornavam precisas para organizar as classes nas cidades deu  liberdade necessária para a efetivação da nossa música enquanto popular e autêntica, pois sempre os novos rumores musicais saíram de classes mais baixas e que tinham cargos públicos, como é o caso do pai de Pixinguinha, ou profissões comerciárias que os tornavam autônomos, isso com a mistura dos cantos dos negros que mesmo trabalhando cantavam, o ócio dos barbeiros que faziam outros trabalhos que lhes davam notoriedade e tempo e mãos livres para desempenhar a música sem preocupação ou funcionalidades. E ao passo que a cidade se organizava e estruturava, os músicos e a música se organizava também. 




Quando o século XIX passa da metade, muitos grupos musicais já haviam se estabelecido enquanto manifestação social e popular. E tudo que vinha de fora era adaptado aos violões, flautas e cavaquinhos,   pois a partir de 1835, o termo "chorões" já era registrado por Alexandre Gonçalves Pinto, músico, que relatava a vida e obra de seus amigos músicos no livro O Choro - Reminiscências dos Chorões Amigos, onde é possível estabelecer relações cruciais ao surgimento ou coroamento do choro de Joaquim Callado, a quem se dá o mérito de pai dos chorões. Seu grupo era formado por sua flauta solo e cavaquinho e dois violões, que eram capazes de improvisar sobre o acompanhamento harmônico. Podemos interpretar o ocorrido com Joaquim Callado da seguinte forma: seus companheiros chorões conseguiram fixar um novo modo de interpretar modinhas, lundus, valsas e polcas. Dentre estes seus amigos estão Viriato Figueira (figura da esquerda) e Chiquinha Gonzaga (figura da direita). E assim o século XX chega para consagrar a música brasileira, com a chegada dos primeiros gravadores junto à Casa Edson. Entramos dessa forma numa nova era, a Era da Informação, conseguida como muitos afirmam com a advento das guerras. A partir de 1902, quando chega ao Brasil os primeiros gravadores, nas próximas décadas a tecnologia avança e no Brasil acontece a primeira transmissão em 1922, inaugurando assim a Era do Rádio. O choro e o Brasil já haviam conhecido Pixinguinha e outros chorões, mas aquilo que se inicia por volta de 1830, ganha corpo em 1870 e vida com Os Oito Batutas, desfalece na década de 30, quando o samba se impõem como produto nacional na campanha de Getúlio Vargas. Aqueles velhos chorões ensacaram os seus violões e guardaram as flautas nos baús, mas o que era primeiramente visto e tido como um jeito novo de tocar, harmonizando e improvisando sobre músicas avulsar, passou a ser reconhecido como gênero musical, o Choro. E  dessa escola se fizeram muitos e muitos chorões e grandes instrumentistas que se eu for citar dá umas 200 linhas. Mas não vou deixar de falar de nomes piracicabanos ligados ao choro como o professor Sérgio Belluco, seu aluno Alessandro Penezzi, a grande revelação Marcos Moraes e Marco Abreu, nosso Pixinguinha piracicabano, que está lançando neste dia de hoje seu Soonbook com composições próprias. E tem gente boa vindo aí, atentem para Marcus Godoy, Leandro Oliveira e Rafael Barros. E viva o choro brasileiro!
Saulo Ligo                                                                                                                      

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Núcleo Musical Xô Segunda!

Mais do que válido. É necessário salientar elogios ao Núcleo Xô Segunda, uma genial idéia do amigo Crânio. Não será preciso falar do ambiente daquela noite, gente feliz, papo em dia, samba bom e um lugar pra lá de especial é o Bar Cruzeiro, que já entrou pra história da cidade nessa retomada da música piracicabana. Quero exaltar a idéia do Núcleo, pois não é de hoje que sei das intenções do idealizador do projeto, ele que já me azucrinou por diversas vezes e sempre insistindo no assunto do autoral. Nunca discordei, e sim compartilhei. Mas tudo é tempo. De fato as coisas que plantamos no tempo certo têm safra garantida no futuro. E estamos no futuro, estamos no tempo da reviravolta, da reforma musical, de rever conceitos e padrões muitas vezes impostos sem a chance de escolha entre outras formas de manifestação musical. E no Núcleo da segunda-feira no dia dos índios, o autoral comeu solto e mostrou que tem muito mais vida do que se pensa. Lá se valorizou o regional, o compositor, o desconhecido.
O Núcleo Xô Segunda me causou uma alegria que há muito não sentia em relação ao samba piracicabano, porque ele trouxe por intermédio do querido Fabio, nosso Crânio, um alento e que aos meus olhos é um passo a frente para novas discussões e perspectivas para por na pauta tudo o que nossa cidade tem para oferecer de novidade. Novidade que está acontecendo desde os tempos passados, coisa de séculos atrás, quando a música brasileira surgia do imaginário do povo, da criatividade, do anseio pelo novo, pelo autêntico e foi o virtuosismo do povo, da sua plástica, da facilidade com que se adapta e incorpora o desconhecido e transforma como que num passe de mágica e muita brasilidade, sempre buscando a criação, a cria do criador, sem imitação, que nossa música nasceu. Assim a música brasileira sempre surgiu do inesperado, do inusitado.
A novidade é a válvula transformadora do ser e a música é a solução mais exata dentro das suas particularidades abstratas que movem as mãos e mentes transformadoras do homem. O samba é a maior invenção do brasileiro e não pode ser resumida em corporações mercadológicas. O Núcleo rompeu com essa intermediação. Ali o compositor senta ao lado do cantador e do tocador que estão ao lado do apreciador e do falador e bater de palmas que somam e multiplicam o sentido daquilo pra todos. O samba deve ser consumado e não consumido. Deve ser digerido e não engolido. Essa força não deve morrer e sim movimentar novas engrenagens que propagarão o samba para todos os cantos, sem lateralismos, sem restrições, sem tradicionalismos, sem privilégios. O samba deve ser multiplicado e não subtraído ou subdividido nas mãos de elites corporativas da máquina mortífera do sistema que queima dinheiro.
O passo foi dado. Agora é andar com as próprias pernas, pois a consciência nasce ímpar e só depois se torna coletiva. Vamos sempre dar valor ao regional e apreciar a música boa, sem alimentar egos ou preconceitos, para não colher ignorância. Vida longa ao Xô Segunda e que dê ainda muitos ecos aos nossos telecotecos!
Saulo Ligo

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Samba da Paulistânia!




Hoje me veio à cabeça escutar samba, como de bom costume. Logo comecei a cantarolar um samba do Grupo Casuarina, lá do Rio. Um samba bonito chamado Certidão, que fala dessa coisa meio complexa que é a possessividade sambística de apropriação do samba e de sua história como se fosse possível resumir, sintetizar ou mesmo precisar origens ao ponto de esclarecer de quem ele é. O samba é coisa que liberta a alma, que alivia o corpo e aquece o espírito. Por essas razões ele, o samba, não pode ser aprisionado. Tem que ser liberto e expressado da melhor forma possível, cantando, tocando e fazendo. Mas Casuarina não era o que eu queria ouvir naquele momento, embora ache bem interessante a mistura de linguagens, misturando o tradicional com o samba modernizado, do naylon, do banjo e com bateria. Então mudei de estação e fui buscar o Samba de Fato, junto com a Cristina Buarque, autoridade do samba brasileiro. Essa mulher tem história e samba pra cantar. E foi lenha na fogueira, relembrei um belíssimo Cd só de sambas de Mauro Duarte. Nesta hora meu coração já estava batendo 2 por 4. Mauro Duarte é o que tem de melhor no samba em todos os tempo, na minha opinião, pode falar o que for. Aquele samba canção, meio dolente, aquela melancolia boa falando de tristeza com muita beleza, falando de injustiça com muita resignação e sabedoria, sentimento de poeta que sabe as coisas boas do mundo, tudo guardado nos seus sambas eternos, e diga-se de passagem, muito bem executado pelo Samba de Fato, de fato. Esses caras são bons, sabem tudo de samba e por isso podemos todos ficar tranqüilos que o samba está bem guardado. Agora estava consumido, possuído de samba. Dormir? Quê!? fui escutar mais...Como diria o seu Ambrósio: vou lá conferir! E como que por impulso botei Anabela pra tocar, Cidade das Noites. Agora sim, a razão deste depoimento, meio dramático com gosto de samba. É uma das coisas mais bonitas de se ouvir no que diz respeito ao samba contemporâneo, pois não sei ainda outra forma de taxar, mas hei de descobrir! Um álbum primoroso, caprichosamente arranjado por Edu de Maria pelo visto, Ana com sua Bela voz sambarolando letras de Roberto Didio e melodias de Renato Martins. Os compositores são membros do Terreiro Grande, reduto de samba em São Paulo, lá o samba mora também. Anabela e Edu de Maria são integrantes do Núcleo de Samba Cupinzeiro, grupo de Campinas gabaritado no assunto. 
Anabela, Renato Martins, Roberto Didio e Edu de Maria


Quero deixar claro que expresso simplesmente o que sinto pelo samba e que busco sempre entender sua história para poder pisar o chão daqueles que enxergam seu tapete estendido através do esclarecimento e do respeito. Não querendo contradizer o início pois acredito que o samba não deve ter fronteiras, muito menos aquelas com barreiras de vaidades floreadas de egos e ilusões. Mas vamos por os pingos nos is e se der nos jotas também: se for pra falar de samba paulista, temos que incluir sempre os nomes destes bambas da paulistânia. Cidade das noites traz um sentimento novo, nunca experimentado no paladar do samba. Desculpem o exagero, mas sei no fundo que não é. Pois nele você mergulha no universo do samba, ali tem as rosas de Cartola, ali tem o espinho de Nelson, ali tem o choro negro de Paulinho e Pixinguinha, ali tem tem história de samba pra mais de métricas. É música brasileira pura. Tem toques de coisas do nosso povo de longe, das Modinhas, das Canções , dos Maxixes...uma aquarela mestiça, de branco, de negro, de índio e tudo que pisou e misturou por estas terras. Por mim já está na história. 
Saulo Ligo



ASSISTA: Aqui postarei junto ao amigo YouTube alguns vídeos desses e outros bambas da terra nossa. Este vídeo abre o repertório do Núcleo, Lamento Negro (Edu de Maria e Bruno Ribeiro).

Depois uma sequência de sambas de Adoniran Barbosa: Despejo na Favela, Abrigo de Vagabundos e Iracema. 


Para complementar o retrato paulista, Menino Grande de Geraldo Filme! O Geraldão da Barrafunda diria com exuberância Plínio Marcos.


E pra fechar a noite, vou provocar meu povo. Aí está, o grande Oswaldinho da Cuíca que pisou recentemente em terras piracicanas de Toniquinho Batuqueiro. Um samba da parceria e não poderia ser mais adequado o nome: Ditado Antigo.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Próxima homenagem, dia 23 de Maio de 2010















NOVA DATA!
Agora está definido, próximo Projeto 14 Sambas será em Maio, mês de aniversário do quinto ano do Projeto. Para esta edição, o homenageado será o compositor Sombrinha. 

LOCAL e HORA
Sociedade Beneficente Treze de Maio de Piracicaba, 1118 - Centro 
A partir das 14h até as 19h


BIOGRAFIA
Sombrinha é nascido em São Vicente, SP no dia 30 de Agosto de 1959. Filho de músico, tocava violão desde os 9 anos de idade, influenciado desde menino pelas rodas de choro frequentes em sua casa. Em 1975 muda-se para São Paulo onde continua a carreira profissional iniciada nos bares de São Vicente. Em 1978 transfere-se para o Rio de Janeiro, freqüentador do Bloco Cacique de Ramos, levado por Neoci. Em 1980 funda o Grupo Fundo de Quintal e  dessa forma entra para a história da música popular, com diversos sambas gravados como Amor não é por aí, com  Arlindo Cruz e Não quero saber mais dela, com Almir Guineto. Ganhou alguns prêmios Sharp como melhor grupo e revelação.  




ARTIGO DE DISCUSSÃO

Sombrinha, assim como o Fundo de Quintal e o Cacique de Ramos, são peças fundamentais para entender o processo pelo qual o samba atravessou a década de 80. Transformações, adaptações e modificações foram circunstanciais para a novo caminho que se abriu na história da música popular, considerando que o dinamismo cultural e a sociedade na época, somado ao momento político e econômico que o Brasil atravessava, sofrendo sérias depressões e alterações com o novo modelo de país vigente imposto pela ditadura, são fatores importantes e relevantes para compreender algumas questões que determinaram o surgimento do Pagode, tendo em vista que a palavra pagode há muito tempo é usada e empregada para designar reunião de sambistas ou pessoas para celebrar o samba, do jeitinho que se fazia na famosa casa da Tia Ciata e em esquinas, calçadas, botecos e fundo de quintais por todo o país.

O que houve foi uma nova leitura da palavra pagode, atribuindo uma nova significação que se transfigurou em gênero com a complacência mercadológica, que na época, percebeu a potencialidade do movimento que se manifestava nos subúrbios cariocas, amparado e fundamentado nos tradicionais sambas de terreiro, que segundo alguns membros e freqüentadores do Cacique de Ramos, samba esse que as escolas já haviam deixado de fazer em seus terreiros e quadras. Compartilho da idéia que o samba de quadra é descendente do samba de terreiro, o que muda são as Escolas de Sambas, que com o passar do tempo sofrem adaptações e modificações, sejam elas estruturais, quanto ao estabelecimento de novas alas e estéticas dentro das escolas, onde uma influencia a outra, ou pelas mudanças (ou imposições) políticas, como os sambas que passam a ser verdadeiros enredos a partir da década de 40, por sugestão do Estado que impunha uma visão nacionalista, tendo que o samba na década de 30 é promovido a produto nacional, impulsionando campanhas culturais que necessitavam de identidade nacional para um país recém nascido democraticamente falando. É bom lembrar que enquanto a Europa fazia guerra, duas por sinal, o Brasil fazia samba e grandes sambas, vejam esta maravilha de cenário! 

Acontece que uma vez colônia, sempre colônia. O Brasil se libertou do modelo escravocrata? Sim. Se libertou dos monarquistas que eram inconvenientes ao modelo econômico paulista? Sim. Se libertou da condição de país estacionado culturalmente, socialmente e economicamente? Sim. Mas caímos na armadilha do neocolonialismo, imposta pelo imperialismo material dos Norte Americanos e nos tornamos outra vez escravos do dinheiro. E o que é que o samba tem a ver com isto? TUDO. O samba é objeto de resistência, porque como diz Nelson Sargento, o samba é instituição! O samba é o que tem de mais brasileiro no Brasil, o samba é braço forte que atravessou o tempo, o medo, a violência, a injustiça, a perseguição e tantas outras desgraças do dicionário brasileiro de conduta. 

Mas e o dinheiro? O samba sempre deu dinheiro. Cartola, embora resignado, acabou vendendo seus sambas, assim como outros, como o mestre do cavaquinho, Seu Jair, que percebeu que vender samba era o negócio. E na década de 80 não foi diferente. As gravadoras, produtores e oportunistas de plantão sacaram que aquele samba intitulado culturalmente de pagode do Cacique, que trouxe à tona novos compositores, novos batuqueiros, novos pagodeiros, novos cantores, agora sem preocupação estética vocal, caiu na graça do povo, que sabia aqueles sambas "de cor e salteado", pois nossa maior tradição é a oral e a cantada por nossos ancestrais. Pois então, o samba, assim como muitos outros gêneros da nossa música, desde a modinha de Antonio Caldas Domingues ou o maxixe que se misturou até então ao choro de Callado e ao samba de Donga, mais uma vez se transmutou. Agora, ou seja, na década de 80 em diante, o samba ganha proporções nunca antes atingidas, no sentido de popularização e mercadoria, influenciado talvez pelos conceitos da Indústria Cultural e Cultura de Massa, aquela da escola de Frankfurt. O certo é que o Pagode vira oportunidade de ascensão social e ganha proporção ainda maior na década de 90. Aquilo que o Fundo de Quintal misturou com o tradicional, incluindo novos instrumentos e timbres virou outra mistura, agora deixando o tradicional de lado e tudo aquilo que o caracteriza, ou seja, o respeito pelos mestres do passado, a transmissão do legado do samba, a filosofia, a ética e a moral que o samba instituía, para ser simplesmente produto de mercado de massa, incorporado de sinas americanizadas e trazidas para o Brasil dentro de latas. 

O que se vê hoje, movimentando multidões e impulsionado mercados com prazo de validade não tem muito a ver com aquilo que se iniciou no Cacique e no Fundo de Quintal, embora tenha influenciado muita gente que está a um passo de entender, se iluminar e transmitir o verdadeiro sentido do samba. Entretanto, se o cenário não se traduz num episódio relicário, a história está sendo contada e muito bem guardada nos corações e no cancioneiro popular que agoniza mas não morre. Guarde consigo o que é raro, pois neste modelo de mercado, o que é escasso é valoroso. Cante samba! 
Texto: Saulo Ligo