NOVA DATA!
Agora está definido, próximo Projeto 14 Sambas será em Maio, mês de aniversário do quinto ano do Projeto. Para esta edição, o homenageado será o compositor Sombrinha.
LOCAL e HORA
Sociedade Beneficente Treze de Maio de Piracicaba, 1118 - Centro
A partir das 14h até as 19h
Sombrinha é nascido em São Vicente, SP no dia 30 de Agosto de 1959. Filho de músico, tocava violão desde os 9 anos de idade, influenciado desde menino pelas rodas de choro frequentes em sua casa. Em 1975 muda-se para São Paulo onde continua a carreira profissional iniciada nos bares de São Vicente. Em 1978 transfere-se para o Rio de Janeiro, freqüentador do Bloco Cacique de Ramos, levado por Neoci. Em 1980 funda o Grupo Fundo de Quintal e dessa forma entra para a história da música popular, com diversos sambas gravados como Amor não é por aí, com Arlindo Cruz e Não quero saber mais dela, com Almir Guineto. Ganhou alguns prêmios Sharp como melhor grupo e revelação.
ARTIGO DE DISCUSSÃO
Sombrinha, assim como o Fundo de Quintal e o Cacique de Ramos, são peças fundamentais para entender o processo pelo qual o samba atravessou a década de 80. Transformações, adaptações e modificações foram circunstanciais para a novo caminho que se abriu na história da música popular, considerando que o dinamismo cultural e a sociedade na época, somado ao momento político e econômico que o Brasil atravessava, sofrendo sérias depressões e alterações com o novo modelo de país vigente imposto pela ditadura, são fatores importantes e relevantes para compreender algumas questões que determinaram o surgimento do Pagode, tendo em vista que a palavra pagode há muito tempo é usada e empregada para designar reunião de sambistas ou pessoas para celebrar o samba, do jeitinho que se fazia na famosa casa da Tia Ciata e em esquinas, calçadas, botecos e fundo de quintais por todo o país.
O que houve foi uma nova leitura da palavra pagode, atribuindo uma nova significação que se transfigurou em gênero com a complacência mercadológica, que na época, percebeu a potencialidade do movimento que se manifestava nos subúrbios cariocas, amparado e fundamentado nos tradicionais sambas de terreiro, que segundo alguns membros e freqüentadores do Cacique de Ramos, samba esse que as escolas já haviam deixado de fazer em seus terreiros e quadras. Compartilho da idéia que o samba de quadra é descendente do samba de terreiro, o que muda são as Escolas de Sambas, que com o passar do tempo sofrem adaptações e modificações, sejam elas estruturais, quanto ao estabelecimento de novas alas e estéticas dentro das escolas, onde uma influencia a outra, ou pelas mudanças (ou imposições) políticas, como os sambas que passam a ser verdadeiros enredos a partir da década de 40, por sugestão do Estado que impunha uma visão nacionalista, tendo que o samba na década de 30 é promovido a produto nacional, impulsionando campanhas culturais que necessitavam de identidade nacional para um país recém nascido democraticamente falando. É bom lembrar que enquanto a Europa fazia guerra, duas por sinal, o Brasil fazia samba e grandes sambas, vejam esta maravilha de cenário!
Acontece que uma vez colônia, sempre colônia. O Brasil se libertou do modelo escravocrata? Sim. Se libertou dos monarquistas que eram inconvenientes ao modelo econômico paulista? Sim. Se libertou da condição de país estacionado culturalmente, socialmente e economicamente? Sim. Mas caímos na armadilha do neocolonialismo, imposta pelo imperialismo material dos Norte Americanos e nos tornamos outra vez escravos do dinheiro. E o que é que o samba tem a ver com isto? TUDO. O samba é objeto de resistência, porque como diz Nelson Sargento, o samba é instituição! O samba é o que tem de mais brasileiro no Brasil, o samba é braço forte que atravessou o tempo, o medo, a violência, a injustiça, a perseguição e tantas outras desgraças do dicionário brasileiro de conduta.
Mas e o dinheiro? O samba sempre deu dinheiro. Cartola, embora resignado, acabou vendendo seus sambas, assim como outros, como o mestre do cavaquinho, Seu Jair, que percebeu que vender samba era o negócio. E na década de 80 não foi diferente. As gravadoras, produtores e oportunistas de plantão sacaram que aquele samba intitulado culturalmente de pagode do Cacique, que trouxe à tona novos compositores, novos batuqueiros, novos pagodeiros, novos cantores, agora sem preocupação estética vocal, caiu na graça do povo, que sabia aqueles sambas "de cor e salteado", pois nossa maior tradição é a oral e a cantada por nossos ancestrais. Pois então, o samba, assim como muitos outros gêneros da nossa música, desde a modinha de Antonio Caldas Domingues ou o maxixe que se misturou até então ao choro de Callado e ao samba de Donga, mais uma vez se transmutou. Agora, ou seja, na década de 80 em diante, o samba ganha proporções nunca antes atingidas, no sentido de popularização e mercadoria, influenciado talvez pelos conceitos da Indústria Cultural e Cultura de Massa, aquela da escola de Frankfurt. O certo é que o Pagode vira oportunidade de ascensão social e ganha proporção ainda maior na década de 90. Aquilo que o Fundo de Quintal misturou com o tradicional, incluindo novos instrumentos e timbres virou outra mistura, agora deixando o tradicional de lado e tudo aquilo que o caracteriza, ou seja, o respeito pelos mestres do passado, a transmissão do legado do samba, a filosofia, a ética e a moral que o samba instituía, para ser simplesmente produto de mercado de massa, incorporado de sinas americanizadas e trazidas para o Brasil dentro de latas.
O que se vê hoje, movimentando multidões e impulsionado mercados com prazo de validade não tem muito a ver com aquilo que se iniciou no Cacique e no Fundo de Quintal, embora tenha influenciado muita gente que está a um passo de entender, se iluminar e transmitir o verdadeiro sentido do samba. Entretanto, se o cenário não se traduz num episódio relicário, a história está sendo contada e muito bem guardada nos corações e no cancioneiro popular que agoniza mas não morre. Guarde consigo o que é raro, pois neste modelo de mercado, o que é escasso é valoroso. Cante samba!
Texto: Saulo Ligo