segunda-feira, 12 de abril de 2010

Próxima homenagem, dia 23 de Maio de 2010















NOVA DATA!
Agora está definido, próximo Projeto 14 Sambas será em Maio, mês de aniversário do quinto ano do Projeto. Para esta edição, o homenageado será o compositor Sombrinha. 

LOCAL e HORA
Sociedade Beneficente Treze de Maio de Piracicaba, 1118 - Centro 
A partir das 14h até as 19h


BIOGRAFIA
Sombrinha é nascido em São Vicente, SP no dia 30 de Agosto de 1959. Filho de músico, tocava violão desde os 9 anos de idade, influenciado desde menino pelas rodas de choro frequentes em sua casa. Em 1975 muda-se para São Paulo onde continua a carreira profissional iniciada nos bares de São Vicente. Em 1978 transfere-se para o Rio de Janeiro, freqüentador do Bloco Cacique de Ramos, levado por Neoci. Em 1980 funda o Grupo Fundo de Quintal e  dessa forma entra para a história da música popular, com diversos sambas gravados como Amor não é por aí, com  Arlindo Cruz e Não quero saber mais dela, com Almir Guineto. Ganhou alguns prêmios Sharp como melhor grupo e revelação.  




ARTIGO DE DISCUSSÃO

Sombrinha, assim como o Fundo de Quintal e o Cacique de Ramos, são peças fundamentais para entender o processo pelo qual o samba atravessou a década de 80. Transformações, adaptações e modificações foram circunstanciais para a novo caminho que se abriu na história da música popular, considerando que o dinamismo cultural e a sociedade na época, somado ao momento político e econômico que o Brasil atravessava, sofrendo sérias depressões e alterações com o novo modelo de país vigente imposto pela ditadura, são fatores importantes e relevantes para compreender algumas questões que determinaram o surgimento do Pagode, tendo em vista que a palavra pagode há muito tempo é usada e empregada para designar reunião de sambistas ou pessoas para celebrar o samba, do jeitinho que se fazia na famosa casa da Tia Ciata e em esquinas, calçadas, botecos e fundo de quintais por todo o país.

O que houve foi uma nova leitura da palavra pagode, atribuindo uma nova significação que se transfigurou em gênero com a complacência mercadológica, que na época, percebeu a potencialidade do movimento que se manifestava nos subúrbios cariocas, amparado e fundamentado nos tradicionais sambas de terreiro, que segundo alguns membros e freqüentadores do Cacique de Ramos, samba esse que as escolas já haviam deixado de fazer em seus terreiros e quadras. Compartilho da idéia que o samba de quadra é descendente do samba de terreiro, o que muda são as Escolas de Sambas, que com o passar do tempo sofrem adaptações e modificações, sejam elas estruturais, quanto ao estabelecimento de novas alas e estéticas dentro das escolas, onde uma influencia a outra, ou pelas mudanças (ou imposições) políticas, como os sambas que passam a ser verdadeiros enredos a partir da década de 40, por sugestão do Estado que impunha uma visão nacionalista, tendo que o samba na década de 30 é promovido a produto nacional, impulsionando campanhas culturais que necessitavam de identidade nacional para um país recém nascido democraticamente falando. É bom lembrar que enquanto a Europa fazia guerra, duas por sinal, o Brasil fazia samba e grandes sambas, vejam esta maravilha de cenário! 

Acontece que uma vez colônia, sempre colônia. O Brasil se libertou do modelo escravocrata? Sim. Se libertou dos monarquistas que eram inconvenientes ao modelo econômico paulista? Sim. Se libertou da condição de país estacionado culturalmente, socialmente e economicamente? Sim. Mas caímos na armadilha do neocolonialismo, imposta pelo imperialismo material dos Norte Americanos e nos tornamos outra vez escravos do dinheiro. E o que é que o samba tem a ver com isto? TUDO. O samba é objeto de resistência, porque como diz Nelson Sargento, o samba é instituição! O samba é o que tem de mais brasileiro no Brasil, o samba é braço forte que atravessou o tempo, o medo, a violência, a injustiça, a perseguição e tantas outras desgraças do dicionário brasileiro de conduta. 

Mas e o dinheiro? O samba sempre deu dinheiro. Cartola, embora resignado, acabou vendendo seus sambas, assim como outros, como o mestre do cavaquinho, Seu Jair, que percebeu que vender samba era o negócio. E na década de 80 não foi diferente. As gravadoras, produtores e oportunistas de plantão sacaram que aquele samba intitulado culturalmente de pagode do Cacique, que trouxe à tona novos compositores, novos batuqueiros, novos pagodeiros, novos cantores, agora sem preocupação estética vocal, caiu na graça do povo, que sabia aqueles sambas "de cor e salteado", pois nossa maior tradição é a oral e a cantada por nossos ancestrais. Pois então, o samba, assim como muitos outros gêneros da nossa música, desde a modinha de Antonio Caldas Domingues ou o maxixe que se misturou até então ao choro de Callado e ao samba de Donga, mais uma vez se transmutou. Agora, ou seja, na década de 80 em diante, o samba ganha proporções nunca antes atingidas, no sentido de popularização e mercadoria, influenciado talvez pelos conceitos da Indústria Cultural e Cultura de Massa, aquela da escola de Frankfurt. O certo é que o Pagode vira oportunidade de ascensão social e ganha proporção ainda maior na década de 90. Aquilo que o Fundo de Quintal misturou com o tradicional, incluindo novos instrumentos e timbres virou outra mistura, agora deixando o tradicional de lado e tudo aquilo que o caracteriza, ou seja, o respeito pelos mestres do passado, a transmissão do legado do samba, a filosofia, a ética e a moral que o samba instituía, para ser simplesmente produto de mercado de massa, incorporado de sinas americanizadas e trazidas para o Brasil dentro de latas. 

O que se vê hoje, movimentando multidões e impulsionado mercados com prazo de validade não tem muito a ver com aquilo que se iniciou no Cacique e no Fundo de Quintal, embora tenha influenciado muita gente que está a um passo de entender, se iluminar e transmitir o verdadeiro sentido do samba. Entretanto, se o cenário não se traduz num episódio relicário, a história está sendo contada e muito bem guardada nos corações e no cancioneiro popular que agoniza mas não morre. Guarde consigo o que é raro, pois neste modelo de mercado, o que é escasso é valoroso. Cante samba! 
Texto: Saulo Ligo 

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