sexta-feira, 30 de julho de 2010

Salve Toniquinho Batuqueiro!

É com grande prazer que posto este documentário produzido em Piracicaba. O vídeo é o primeiro da série Histórias do Samba, apresentando Seu Toniquinho Batuqueiro. A produção é resultado de uma oficina de História Oral e produção de Documentário ministrado em junho de 2010 no SESC Piracicaba, pela FILÓ Comunicação e pelo historiador Pablo Carajol. 
Vamos ao que interessa e sem mais delongas! Bom filme a todos!


















quarta-feira, 21 de julho de 2010

Mestre Candeia

Vou pelas minhas madrugadas a escutar samba e escrever o que se passou, pois não é toda dia que tem roda de samba...mas bem que poderia. Agora pouco me veio à lembrança um samba de Candeia, Pintura sem Arte, e com ele uma enxurrada de pensamentos, neles veio o Projeto 14 Sambas, que comemora 5 anos de samba e quem puxou o verso inicial foi Mestre Candeia. Aí pensei logo: por que não fazer uma roda cantando os sambas de Candeia e relembrar o projeto, minha justificativa é não ter participado do primeiro Projeto 14 sambas, pois não conhecia a querida e hoje minha escola de samba, Comunidade Quilombola, pois foi onde aprendi o que é uma roda de samba tradicional. Mas antes de articular esta roda com a força dos amigos, vale a pena comentar a obra e vida de Antonio Candeia Filho, um autêntico sambista brasileiro.

Biografia Comentada





Antônio CANDEIA nasceu em 1935, no dia 17 de agosto e cresceu no bairro de Oswaldo Cruz, berço da Portela. Sua infância foi marcada pela vida cultural regada de choro, influência do pai flautista, de samba e partido alto, pois conhecera Paulo da Portela, Claudionor Cruz, Zé com fome e Luperce Miranda nas rodas familiarizadas desde criança. Candeia se forma num ambiente marcante para a música popular, o período de formação e estruturação das escolas de samba do Rio de Janeiro, onde conceitos de identidade nacional e tradição popular eram delineados pelas festividades carnavalescas, diante da mais pura manifestação cultural de um povo, da qual se instaura as bases do carnaval brasileiro, dos desfiles organizados e temáticos, envolvendo comunidades representadas por pessoas que traziam o samba como bagagem cultural de vivencia e porque não, de resistência popular. Provavelmente, o contexto em que se formou sambista foi de crucial importância para e efetivação de seu nome na história da música brasileira, considerando que Candeia era frequentador da Escola de Samba Vai Como Pode, que deu origem à Portela e que daria suporte para nos anos 70 participar de um movimento de resistência à imposições externas que mudariam o rumo das escolas de sambas, defendendo que tais influências poderiam distorcer (e como distorceram!) a concepção de cultura construída pelo povo em relação ao samba. A crítica de Candeia e outros integrantes portelenses, entre eles Paulinho da Viola, era que na década de 60 muitas pessoas sem identificação com o samba passaram a modificar a escola e interferir estruturalmente no carnaval, chegando a deturpar os sambas antes comuns aos portelenses que viviam o dia a dia da escola e da comunidade. Quero ressaltar a importância desse fato, documentado e passível de análises que condizem com as angústias dos questionadores portelenses que discutiam os rumos particulares e portanto identificados com a história da Portela, pois realmente as modificações explicitadas foram incorporadas e espetacularizadas no carnaval, distorcendo o seu real sentido de manifestação popular para produto comercial.
A postura de Candeia demonstra seu braço firme e pulso forte pelo samba e suas razões, comprovado em seus sambas, marcados pela poeticidade autêntica do sambista que nos permite separar seus 30 anos de composição, pois começou compor aos 13 e morreu precocemente aos 43 anos. A primeira fase condiz com sua formação de sambista, com forte influência do partido alto, do comprometimento com as causas e políticas negras, das letras marcadas pelo sofrimento do pobre, do marginal, das injustiças, dos preconceitos. Em 1957 entra para a polícia, pois era uma atividade que trazia certa segurança financeira e prestígio social em detrimento do preconceito racial, mas sua história na milícia acaba trágica. Numa batida policial em 65, Candeia descarrega a pistola nas rodas de um caminhão abordado e acaba surpreendido pelo motorista que desfechou cinco tiros, um deles alojou-se na medula óssea. Paralítico, afastou-se da profissão, mas o trauma de vida perturbou-lhe e assim começa a segunda fase de sua obra musical. O acontecido acometeu depressões que foram expressas em frases desinteressadas do presente e passado, mas que Candeia carregaria como marca poética em sambas falando sobre questões existencialistas e filosóficas demonstrando o abalo psicológico e das dificuldades que passa a enfrentar. Felizmente a filosofia do samba canta mais alto e a chama de Candeia se eternizou em sambas saudosos e que revivem nas rodas de samba em todos os cantos do país.
Superando todas as adversidades e cantando outras, Candeia teve a trajetória artística impecável e traduziu em sambas suas idealizações e concepções a respeito do samba e suas raízes. Ganhou o enredo do carnaval com 17 anos, formou conjuntos de compositores, foi gravado por muitos artistas, escreveu livro e lançou discos com outros grandes nomes do samba como Elton Medeiros, Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, ilustrados na foto. 


Para finalizar a postagem, fiquem com o samba "Pintura sem Arte" de Candeia, para ilustrar a profundidade  das letras, nesta em especial, pois trata do acidente que o imobilizou as pernas e conduziu uma fase poética marcada pela tristeza e lamento dos versos. 








PINTURA SEM ARTE Candeia

Me sinto igual a uma folha caída
Sou o adeus de quem parte
Pra quem a vida é pintura sem arte
A flor esperança se acabou
O amor, o vento levou
Outra flor nasceu é a saudade
Que invade tirando a liberdade
Meu peito arde igual verão
Mas se é pra chorar, choro cantando
Pra ninguém me ver sofrendo
E dizer que estou pagando

Não, não basta ter inspiração
Não basta fazer uma linda canção
Pra cantar samba se precisa muito mais
O samba é lamento, é sofrimento, é fuga dos meus ais
Por isso eu agradeço a saudade em meu peito
Que vem acalentando o meu sonho desfeito
Jardim do passado, flores mortas pelo chão

segunda-feira, 19 de julho de 2010

O SAMBA INDÍGENA


por Saulo Ligo

Lembro-me, numa das conversas passadas com o amigo Fabio do Ecos, ele me apresentou novas idéias sobre o surgimento do samba. O caso era que Bernardo Alves, um pesquisador pernambucano, escrevera um livro intitulado "A Pré-História do Samba", lançado em 2002 e neste livro ele apresentara levantamentos históricos que colocam o samba no berço indígena no nordeste brasileiro. E o assunto já vem sendo proposto há muito tempo, pois o folclorista Sílvio Romero, ainda no século XIX admitiria estar convencido, o samba é de origem indígena. Romero chegou a tal conclusão analisando documentos históricos coloniais, de escritores como Fernão Cardim e Couto de Magalhães. 


O fato é que, no romper do terceiro milênio, muitas conclusões à respeito do samba e suas origens ganham sentidos nunca antes atrelados, sentidos esses que perpassaram o tempo e conviveram na desarticulação das informações, tantas vezes dirigidas e endereçadas aos interesses particulares. Acontece é que o tempo passa e as pessoas mudam, com isso devo eu tirar minhas próprias conclusões, porém indicando a fonte da informação pra não dizerem que não tem fundamento ou não faz qualquer sentido. Os tempos são outros, mas a carcaça é a mesma erigida dentre milênios de florestas e centenas de séculos de civilização. 

No livro "Origem do Termo Samba", publicado em 1978, Batista Siqueira nos dá a pista das discussões inacabadas e que nunca terão sentido se não considerarmos que a palavra "samba" pode sofrer conotações distintas de acordo com o idioma que corresponder e que este fato é principal causador de desavenças, pois se buscar a origem da palavra na África, na Jamaica ou numa língua indígena, diferentes denotações serão postas em choque. Inclusive, Jacques Raimundo, autor do livro O Negro Brasileiro de 1936, põe em contraste o significado em tupi para a palavra samba que quer dizer "dança", com o sentido conguês que quer dizer "oração". Por isso antes de levantar suspeitas vamos nos ater aos aspectos históricos e contextos sociais das épocas que envolvem o Samba para não suplantarmos culturas que no fundo se complementavam, pois nos levantamentos históricos fica explícito a influência portuguesa nos indígenas com a introdução de novos instrumentos musicais. Isso mostra a suscetibilidade das culturas em se apoderar da cultura dos outros.

Bernardo Alves, postula em seus estudos que o samba era prática surgida entre os índios do nordeste brasileiro, talvez mesmo antes do descobrimento, incorporando posteriormente influências européias e africanas. No litoral nordestino os Tupi classificavam um grupo de tribos que pertenciam aos povos Kariris. Eles eram chamados pelos Tupis de Tapuias. O termo tapuia significa intruso, bárbaro, inculto; embora os intrusos estivessem no continente americano antes mesmo dos Tupis. Para situarmos no tempo, estamos falando de pelo menos 10 mil anos. Fabio Gomes, em seu Panorama Histórico da Música Brasileira, resume os estudos de Bernardo Alves e nos introduz ao conceito do samba indígena. O trecho foi retirado do site Brasileirinho: (o link estará no final da postagem)

"SAMBA - O samba nasce com as músicas cantadas ao som de flauta e maracá durante as festas “sambahó”, nas quais os índios cariri do sertão de Pernambuco comiam cágado (um parente da tartaruga) e consumiam bebidas fermentadas, provavelmente mesmo antes da chegada dos portugueses. O contato com estes (principalmente os jesuítas) permitiu aos cariri incluir no samba viola, pandeiro e tamborim, ainda durante o século 17. Descendentes de índios e portugueses, os mercadores caboclos que compravam mercadorias em Olinda e Recife e as revendiam no sertão ajudaram a divulgar o samba, permitindo que este fosse conhecido pelos negros do litoral, que lhe reforçaram a percussão e colaboraram com sua difusão por todo o Nordeste. Ao final do século 19, dezenas de grupos denominados “sambas” desfilavam no carnaval do Recife, ao lado dos grupos de maracatu. O ritmo só passou a ser conhecido no Sudeste a partir da decadência da economia açucareira do Nordeste, com o conseqüente êxodo de escravos para as novas lavouras de café. É então que começam a acontecer no Rio festas de samba em núcleos de pernambucanos e baianos emigrados."

Um texto consistente e convincente, no que diz respeito aos estudos de cultura popular. A conclusão que tiro momentaneamente é que para o bem da cultura popular brasileira, os estudos dos rítmos brasileiros e das tradições populares necessitem de novas ambições, que se traduzam no âmbito nacional e realmente possibilitem a maior compreensão daquilo que nos envolve quando falamos em Cultura, no sentido mais abrangente da palavra, afinal somos todos produtos do mesmo meio, embora as coisas boas desse nosso Brasil sejam deixadas de lado. Para que os "finarmente" não se traduza em pessimismo, fica a esperança de que o leitor sinta-se à vontade para questionar e pensar o que quiser, basta falar. Estamos às ordens do samba!


LINKS: