Mais do que válido. É necessário salientar elogios ao Núcleo Xô Segunda, uma genial idéia do amigo Crânio. Não será preciso falar do ambiente daquela noite, gente feliz, papo em dia, samba bom e um lugar pra lá de especial é o Bar Cruzeiro, que já entrou pra história da cidade nessa retomada da música piracicabana. Quero exaltar a idéia do Núcleo, pois não é de hoje que sei das intenções do idealizador do projeto, ele que já me azucrinou por diversas vezes e sempre insistindo no assunto do autoral. Nunca discordei, e sim compartilhei. Mas tudo é tempo. De fato as coisas que plantamos no tempo certo têm safra garantida no futuro. E estamos no futuro, estamos no tempo da reviravolta, da reforma musical, de rever conceitos e padrões muitas vezes impostos sem a chance de escolha entre outras formas de manifestação musical. E no Núcleo da segunda-feira no dia dos índios, o autoral comeu solto e mostrou que tem muito mais vida do que se pensa. Lá se valorizou o regional, o compositor, o desconhecido.
O Núcleo Xô Segunda me causou uma alegria que há muito não sentia em relação ao samba piracicabano, porque ele trouxe por intermédio do querido Fabio, nosso Crânio, um alento e que aos meus olhos é um passo a frente para novas discussões e perspectivas para por na pauta tudo o que nossa cidade tem para oferecer de novidade. Novidade que está acontecendo desde os tempos passados, coisa de séculos atrás, quando a música brasileira surgia do imaginário do povo, da criatividade, do anseio pelo novo, pelo autêntico e foi o virtuosismo do povo, da sua plástica, da facilidade com que se adapta e incorpora o desconhecido e transforma como que num passe de mágica e muita brasilidade, sempre buscando a criação, a cria do criador, sem imitação, que nossa música nasceu. Assim a música brasileira sempre surgiu do inesperado, do inusitado.
A novidade é a válvula transformadora do ser e a música é a solução mais exata dentro das suas particularidades abstratas que movem as mãos e mentes transformadoras do homem. O samba é a maior invenção do brasileiro e não pode ser resumida em corporações mercadológicas. O Núcleo rompeu com essa intermediação. Ali o compositor senta ao lado do cantador e do tocador que estão ao lado do apreciador e do falador e bater de palmas que somam e multiplicam o sentido daquilo pra todos. O samba deve ser consumado e não consumido. Deve ser digerido e não engolido. Essa força não deve morrer e sim movimentar novas engrenagens que propagarão o samba para todos os cantos, sem lateralismos, sem restrições, sem tradicionalismos, sem privilégios. O samba deve ser multiplicado e não subtraído ou subdividido nas mãos de elites corporativas da máquina mortífera do sistema que queima dinheiro.
O passo foi dado. Agora é andar com as próprias pernas, pois a consciência nasce ímpar e só depois se torna coletiva. Vamos sempre dar valor ao regional e apreciar a música boa, sem alimentar egos ou preconceitos, para não colher ignorância. Vida longa ao Xô Segunda e que dê ainda muitos ecos aos nossos telecotecos!
Saulo Ligo
Um comentário:
Realmente foi um momento muito gostoso, organizado e cheio de calor humano, e a antiga formação do Oitava Cor junto aos musicos do Xô Segunda foi um samba que não via a muito tempo em Piracicaba. Ultimamente vejo nas rodas de samba muita copiação e pouca criatividade e esta roda de samba mostrou algo diferente. Voces poderiam postar as datas do proximo Xo Segunda e 14 Sambas no blog para que possamos ir acompanhando? Sucesso ao 14 Sambas, Xô Segunda e seus organizadores.
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