segunda-feira, 19 de julho de 2010

O SAMBA INDÍGENA


por Saulo Ligo

Lembro-me, numa das conversas passadas com o amigo Fabio do Ecos, ele me apresentou novas idéias sobre o surgimento do samba. O caso era que Bernardo Alves, um pesquisador pernambucano, escrevera um livro intitulado "A Pré-História do Samba", lançado em 2002 e neste livro ele apresentara levantamentos históricos que colocam o samba no berço indígena no nordeste brasileiro. E o assunto já vem sendo proposto há muito tempo, pois o folclorista Sílvio Romero, ainda no século XIX admitiria estar convencido, o samba é de origem indígena. Romero chegou a tal conclusão analisando documentos históricos coloniais, de escritores como Fernão Cardim e Couto de Magalhães. 


O fato é que, no romper do terceiro milênio, muitas conclusões à respeito do samba e suas origens ganham sentidos nunca antes atrelados, sentidos esses que perpassaram o tempo e conviveram na desarticulação das informações, tantas vezes dirigidas e endereçadas aos interesses particulares. Acontece é que o tempo passa e as pessoas mudam, com isso devo eu tirar minhas próprias conclusões, porém indicando a fonte da informação pra não dizerem que não tem fundamento ou não faz qualquer sentido. Os tempos são outros, mas a carcaça é a mesma erigida dentre milênios de florestas e centenas de séculos de civilização. 

No livro "Origem do Termo Samba", publicado em 1978, Batista Siqueira nos dá a pista das discussões inacabadas e que nunca terão sentido se não considerarmos que a palavra "samba" pode sofrer conotações distintas de acordo com o idioma que corresponder e que este fato é principal causador de desavenças, pois se buscar a origem da palavra na África, na Jamaica ou numa língua indígena, diferentes denotações serão postas em choque. Inclusive, Jacques Raimundo, autor do livro O Negro Brasileiro de 1936, põe em contraste o significado em tupi para a palavra samba que quer dizer "dança", com o sentido conguês que quer dizer "oração". Por isso antes de levantar suspeitas vamos nos ater aos aspectos históricos e contextos sociais das épocas que envolvem o Samba para não suplantarmos culturas que no fundo se complementavam, pois nos levantamentos históricos fica explícito a influência portuguesa nos indígenas com a introdução de novos instrumentos musicais. Isso mostra a suscetibilidade das culturas em se apoderar da cultura dos outros.

Bernardo Alves, postula em seus estudos que o samba era prática surgida entre os índios do nordeste brasileiro, talvez mesmo antes do descobrimento, incorporando posteriormente influências européias e africanas. No litoral nordestino os Tupi classificavam um grupo de tribos que pertenciam aos povos Kariris. Eles eram chamados pelos Tupis de Tapuias. O termo tapuia significa intruso, bárbaro, inculto; embora os intrusos estivessem no continente americano antes mesmo dos Tupis. Para situarmos no tempo, estamos falando de pelo menos 10 mil anos. Fabio Gomes, em seu Panorama Histórico da Música Brasileira, resume os estudos de Bernardo Alves e nos introduz ao conceito do samba indígena. O trecho foi retirado do site Brasileirinho: (o link estará no final da postagem)

"SAMBA - O samba nasce com as músicas cantadas ao som de flauta e maracá durante as festas “sambahó”, nas quais os índios cariri do sertão de Pernambuco comiam cágado (um parente da tartaruga) e consumiam bebidas fermentadas, provavelmente mesmo antes da chegada dos portugueses. O contato com estes (principalmente os jesuítas) permitiu aos cariri incluir no samba viola, pandeiro e tamborim, ainda durante o século 17. Descendentes de índios e portugueses, os mercadores caboclos que compravam mercadorias em Olinda e Recife e as revendiam no sertão ajudaram a divulgar o samba, permitindo que este fosse conhecido pelos negros do litoral, que lhe reforçaram a percussão e colaboraram com sua difusão por todo o Nordeste. Ao final do século 19, dezenas de grupos denominados “sambas” desfilavam no carnaval do Recife, ao lado dos grupos de maracatu. O ritmo só passou a ser conhecido no Sudeste a partir da decadência da economia açucareira do Nordeste, com o conseqüente êxodo de escravos para as novas lavouras de café. É então que começam a acontecer no Rio festas de samba em núcleos de pernambucanos e baianos emigrados."

Um texto consistente e convincente, no que diz respeito aos estudos de cultura popular. A conclusão que tiro momentaneamente é que para o bem da cultura popular brasileira, os estudos dos rítmos brasileiros e das tradições populares necessitem de novas ambições, que se traduzam no âmbito nacional e realmente possibilitem a maior compreensão daquilo que nos envolve quando falamos em Cultura, no sentido mais abrangente da palavra, afinal somos todos produtos do mesmo meio, embora as coisas boas desse nosso Brasil sejam deixadas de lado. Para que os "finarmente" não se traduza em pessimismo, fica a esperança de que o leitor sinta-se à vontade para questionar e pensar o que quiser, basta falar. Estamos às ordens do samba!


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Um comentário:

Fábio disse...

Variações de um mesmo tema, ateus a procura de Deus...pois é o samba não é, o samba são.. Juninho Lazzz..Belo texto fazia tempo que não passeava por aqui e o blog esta com grande qualidade. Sucesso aí