quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Partido Alto

Aqui vai uma aula de partido alto por Mestre Candeia, mas antes quero expor idéias e apresentar fragmentos de textos que nos levam a considerar que a própria história é dinâmica e que fatos antigos ganham outra expressão quando alinhados aos estudos recentes sobre cultura brasileira. Segue abaixo um fragmentos retirado do livro de Roberto Moura, "Tia Ciata e a pequena África no Rio de Janeiro:



"Nos cantos das nações se tornam comuns as giras dos
batuqueiros onde vai surgir o samba baiano, motivos
desenvolvidos pelo coro e contestados pelos solistas: o samba de
roda. Orquestra de percussionistas com tamborins, cuícas, recorecos
e agogôs. Batuque era o nome genérico que o português
dava às danças africanas suas conhecidas ainda no continente
negro, que na Bahia tomam a forma de uma dança-luta que
ocorria aos domingos e dias de festas na praça da Graça e na do
Barbalho, apesar da constante vigilância policial."

Notem nos vídeos abaixo, principalmente no segundo, Paulinho da Viola em pleno terreiro de samba questiona alguns dos presentes sobre o samba de partido alto e é de opinião geral que o partido alto vem do samba de roda da Bahia. O livro de Roberto Moura, traz em seu segundo capítulo uma detalhada introdução ao contexto social do nordeste brasileiro, no qual se forma os primeiros centros culturais urbanizados, com a grande e intensificada participação dos negros trazidos como escravos ainda antes da colonização, pois a intenção de explorar estas terras vem antes do registro de descoberta em 1500. A chegada do povo da Guiné e tantas outras etnias que se interrelacionavam e até guerreavam nas terras africanas se vêem forçados a se adaptarem a uma vida social totalmente nova, com imposições cruéis e que os obrigavam a recriar processos de adaptação, mas que nem sempre deixaram a cultura, a sabedoria, a religião e a expressão africana para trás, agora miscigenando uma nova cultura, misturando-se aos negros da terra, os ameríndios e aos donos de terra e seus costumes europeizantes.

Prestem bem atenção, pois não estou propondo nenhuma alteração na história, muito menos distorcendo fatos, mas o que quero dizer é sério e utilizo de fontes seguras como referências. Recentemente, num livro de Bernardo Alves, "A Pré-História do Samba", o autor afirma afirmava que o samba surgiu entre os índios do Nordeste brasileiro, ao que tudo indica ainda antes do descobrimento, recebendo depois importantes influências européias e africanas. Bernardo Alves utiliza documentos e estudos de conceituados pesquisadores como Sílvio Romero, Fernão Cardim, Sílvio Salema, Gilberto Freyre, entre outros. Muitos jesuítas e estudiosos da épocas colonial relatam histórias que nos levam a crer que um mapeamento do surgimento do samba no Brasil possa ser esclarecido depois de tantos anos. Muitos relatos falam dos trejeitos dos índios para com a música, seus costumes, a vida dos negros, as relações dos grupos étnicos desfavorecidos e tantas outras coisas. Por exemplo, no Tratado Descritivo do Brasil em 1587, Gabriel Soares de Sousa fala de um povo indígena da Bahia que não fora aldeado por jesuítas e conhecia o tamborim:

" Os tupinambás se prezam de grandes músicos, e, ao seu modo, cantam com sofrível tom, os quais têm boas vozes; mas todos cantam por um tom, e os músicos fazem motes de improviso, e suas voltas, que acabam no consoante do mote; um só diz a cantiga, e os outros respondem com o fim do mote, os quais cantam e bailam juntamente numa roda, na qual um tange um tamboril, em que não dobra as pancadas; outros trazem um maracá na mão, que é um cabaço, com umas pedrinhas dentro, com seu cabo por onde pegam; e nos seus bailes não fazem mais mudanças, nem mais continências que bater no chão com um só pé ao som do tamboril; e assim andam todos juntos à roda, e entram pelas casas uns dos outros; onde têm prestes vinho, com que os convidar; e às vezes anda um par de moças cantando entre eles, entre as quais há também mui grandes músicas, e por isso mui estimadas."




Muitos acreditam que esta forma de manifestação musical relatada era frequente nos sambas de roda do recôncavo baiano e futuramente nos terreiros de samba do Rio de Janeiro chamados de partido alto. 







Um comentário:

Cris disse...

Texto interessante hein.. legal mesmo..